quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Doses Homeopáticas

Escrevo contos. Histórias que não digo às pessoas. Finjo passa-las para o papel para a ávida crítica de um amigo leitor. Mas elas me pertencem. Não consigo desamarrar o nó que conheço o laço. É realmente complexo finalizar histórias, vidas, que fazem parte de mim. E por mais que saiba que por dentro eu apodreça e morra, minto acreditando que ainda não estou acabado. Não consigo deixar ir. Quando tudo o mais for embora e tiver esquecido, apenas essas farças que mantenho incabadas em minha falha cabeça me farão companhia.

Não é um estudo sobre identificação. Infelizmente a ciência moderna criou maneiras tão perfeitas de enquadrar cada comportamento suspeito que possuímos, que nos tornamos hipocondríacos mentais. Pessoas que passam a ser parte de algo por compartilharem de uma mesma tarja preta que seu vizinho. O incidental esbarrão na farmácia torna-se o ponto ideal para uma amizade barbitúrica. O mesmo prozac que meu pai em uma dosagem menor. Ele lutou por aquilo. É o novo respeito pelos anciões.

Preciso encontrar a minha doença perfeita. Mas meu corpo passa a me enganar com minha ignorância. Uma apendicite do lado errado do ventre. Uma virose curada com uma noite de sono. Um mês inteiro passando por médicos que não descobriam de que mal perecia me ensinou o quanto sou um paciente hipócrita. Do exato tipo que lê toda a bula procurando os efeitos colaterais mais convenientes para que possam se compadecer de mim. Essa atenção doentia que me faz estar curado dias depois de um diagnóstico negativo. Mas a ciência é brilhante. Aposto uma esquizofrenia como em alguns meses será inventada um novo tipo de doença causada por preguiça excessiva ou apatia mórbida.

Nenhum comentário: